sexta-feira, 20 de março de 2015

Tap Titans

Ah, jogo dos inferno!

Semana passada baixei este jogo, estando atrás de um RPG mais interessante. A ideia minimalista me atraiu, tinha gostado bastante do Inflation RPG, mas este prometia uma interatividade ainda mais restrita. Eu sei, isso é algo conflitante para alguém que já jogou The Elder Scrolls & assemelhados, mas fique comigo.

O jogo consiste, inicialmente, num cenário com o herói de fronte a um ameaçador monstro. Toque no monstro, ele toma dano, caem moedas. Oh, moedas são usadas para melhorar o herói! Mas espere, tem mais: você pode usar as moedas para comprar heróis e aumentar o nível deles, e estes irão atacar o monstro sozinhos. Claro, não tem tanta graça. Mas logo os heróis ganharão tanto dinheiro e avançarão tanto que você precisará ajuda-los tocando no monstro o mais rápido possível. E isso não será suficiente, e você acabará alternando upgrades entre você, os heróis, habilidades especiais... Aqui está o grande grau de liberdade: subir o herói mais fraco na expectativa de aquela habilidade do nível 800 faça ele superar os outros? Ou ignorar e subir o herói mais forte, afinal ele fará mais 2 quintilhões de dano por segundo a mais? Também posso investir no personagem, fazer mais dano por toque, e parecer um idiota enfiando quatro ou mais dedos na tela do celular tentando matar aquele chefe em menos de 30s...

O jogo em si é bonito, e cuida bem de vários detalhes. Alguns heróis contratados (são 30!) voam ao redor do monstro e, quando um chefe os mata, fica uma pequena lápide com asas. É traduzido para português e, apesar de eu não gostar de "subir" e de algumas vezes o texto sair para fora do seu container, conta pontos para o desenvolvedor. Apesar de muitos monstros variarem basicamente na paleta de cores, não vai ser na cara deles que você focará. A curva de aprendizado é tranquila, e a matemática envolvida simples, apesar dos enormes números envolvidos.

O grande problema deste jogo é o vício. A curva de ganhos deve ter sido projetada pelo capiroto, porque vai se ajustando perfeitamente aos upgrades disponíveis e ao aumento de força proporcionado. Não bastasse isso, ao reiniciar o jogo e manter algumas vantagens, você vê todo aquele progresso voar na sua frente e você logo chega ao nível anterior umas cinco vezes mais forte. E o ciclo começa novamente...

Um resumo da experiência:
Ritmo - Intenso, prepare-se para desenvolver alguma LER; ou esqueça dos dedos e foque nos heróis.
Violência - Nada feio, algumas espadas e só.
Dificuldade - Extremamente simples.
Tempo de jogo - Reiniciei depois de 5 dias, acho que farei novamente nos próximos. Creio que vou encher o saco em menos de uma semana.
Dedicação exigida - Mínima. Da pra sentar uns minutos e bater nos chefes, e depois deixar umas horas acumulando moedas.
Chance de vício - Alta! O bicho é pior que Candy Crush!

Avaliação do filhote de 4 anos - pegou, bateu um pouco no monstro, achou simples demais e mudou de jogo.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Opiniões quânticas

Creio que a maioria deva conhecer o experimento clássico do Gato de Schrödinger: um gato está em uma caixa, com um aparelho que pode matá-lo instantaneamente, e que é acionado por um evento aleatório. Não temos como saber se o gato está vivo ou morto, e depois de algum tempo podemos interpretar que o gato poderia estar ao mesmo tempo vivo e morto.

(eu não sou tão simpático ao experimento descrito desta maneira, o gato só está lá por ser um exemplo mundano de algo que pode estar em um estado ou outro; poderíamos chegar no mesmo resultado utilizando uma lâmpada acesa/apagada; mas continuemos)

Conversando com alguns pais no final de semana sobre as crianças acreditarem em coelho da páscoa (a época é propícia, mas acho que o mesmo se aplica a papai noel & cia), cheguei a conclusão de que a opinião de uma criança muitas vezes está neste estado de superposição: apesar de as evidências serem claras, de haver a suspeita dos pais serem a mão por trás dos presentes recebidos, ainda existe aquela fagulha de magia, aquela dúvida, aquele "será mesmo?" da curiosidade infantil. Sem perguntar, sem observar, não temos como ter certeza.

E assim como alguns fenômenos de natureza quântica, a mera observação destes pode alterar o estado do sistema. Perguntar para uma criança: "você ainda acredita em papai noel?" já dá evidência suficiente para que o pequeno tire sua conclusão e altere o estado de sua crença. Perguntar algo para uma criança gera muito mais do que afirmar algo. O pequeno já interpreta o tom, as palavras, a ocasião e constrói um pensamento bem mais complexo do que imaginamos.

Uma frase que eu costumava manter por perto dizia algo assim: "Quando em dúvida entre duas coisas, simplesmente jogue uma moeda. Tanto faz o resultado dela: assim que estiver no ar, você estará torcendo para um dos lados."

Em resumo, sigo apoiando a máxima de que o verdadeiro sábio não está cheio de respostas, mas sim cheio de perguntas. Elas trazem muito mais do que aparentam.

quarta-feira, 11 de março de 2015

Procrastinador

Pro.cras.ti.na.ção (subst.masc.) - O hábito de executar tarefas menos urgentes ou mais prazerosas a tarefas mais urgentes ou menos prazerosas.

Sim, sou um procrastinador. É meu grande medo, minha grande vergonha. Meu maior foco não está em finalizar projetos, mas em começá-los. Tenho pelo menos uma dúzia que começou e nunca andou mais do que alguns passos.

Não é prazeroso terminar um projeto? Sim, é ótimo, é sentir-se mais próximo da divindade, do criador, de segurar o fruto do trabalho em suas mãos e quase gritar "Parla!". Mas o procrastinador é um medroso, quase um covarde. É portador de uma ansiedade ímpar. Este não é ansioso por ver o final, por chegar logo ao objetivo, por cumprir sua tarefa; é exatamente o contrário. Sua ansiedade brota dos fantasmas que o assombram. E se o projeto falhar? E se minha arte for ruim? E se rirem de mim? E se... ? Talvez em algum ponto perdido do passado isso tenha acontecido. Talvez seja um trauma mal explicado de infância (crianças são cruéis, não duvide). Talvez seja uma leve percepção falha de que o resultado não será o esperado. E, muito pior, ainda existe o medo do sucesso (!), onde um projeto bem sucedido, um elogio, uma promoção geram a expectativa (absurdamente exagerada, diga-se de passagem) de que o trabalho futuro deverá ser sempre acima do passado, sem exceção.

De algum tempo para cá, tenho refletido mais profundamente nestes princípios. Querem saber? É tudo bobagem.

O medo é um tigre de papel, é o homem atrás da cortina. Uma vez dissipado, não passa de um reles rato (para os que não tem medo de ratos...). O procrastinador é muitas vezes uma pessoa inteligente, que tem facilidade para aprender coisas novas. Infelizmente, este não aprende um simples fato: cumprir a tarefa, terminar o projeto, mandar o e-mail que está a dois dias no rascunho, tudo isso demora menos de cinco minutos, evapora a pressão, traz o alívio imediato, só necessita de um pingo ínfimo de força de vontade.

Cinco minutos. Meia dúzia de cliques. Duas linhas de código. Um breve e-mail. Um post com uma imagem. É disso que temos medo? É contra isso que temos que lutar?

Certa vez, sentindo o peso da tarefa não cumprida, do terror iminente, da imbecilidade da minha dificuldade, escrevi em um caderno: "cada dia é uma batalha". Até este momento, eu não terminei aquela frase. "Cada dia é uma batalha contra nós mesmos".

Não mais temerei o que virá. Não mais temerei o fracasso, pois é ele que nos ensina. Fracassarei melhor. Não mais temerei a chacota, a humilhação, ou fazer a coisa certa. Somente temerei ficar parado, ver o tempo se esvair enquanto não produzo o que devo, o que quero, o que sonho. O medo é o assassino da mente.



(este post será expandido em seu devido tempo)